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Cura Interior

CURA INTERIOR

1. HISTÓRICO

A “vida abundante” que Jesus ofereceu aos seus seguidores tem sido o objetivo dos mais dedicados cristãos em todas as épocas. Esta prometida abundância tem sido usualmente entendida como harmonia interna e liberdade espiritual, mais do que abundância material – por razões óbvias. A busca por tal liberdade interior tem aparecido sob os mais diversos nomes. Dos tempos romanos à idade média, ela foi buscada em ambientes contemplativos e monásticos – desde o “hesichasm”* dos padres do deserto até os monastérios Beneditinos, os quais existem ainda hoje. Após a Reforma, ela foi buscada em movimentos não-conformistas, tais como o Puritanismo, o Quackerismo, o “Pictism ou Pietism” e Metodismo. O puritano Jeremias Burrough escreveu um tratado intitulado “A jóia rara do contentamento cristão”, um título que ilustra ambos, a comparativa raridade da busca e do seu alcance. A ênfase Wesleyana (Metodista) num segundo trabalho distinto da graça na vida do crente, se tornou uma das pedras fundamentais para a teologia da “vida profunda” que emergiu da renovação evangélica do “Grande Avivamento”. Os escritos de Finney, entre outros, revelaram que o Batismo no Espírito Santo se tornou um fator-chave na sua busca por vida abundante. Esta ênfase no “Evangelho Pleno”, que veio a ser conhecida como Pentecostalismo-Sagrado lançou muitas das bases para a atual renovação carismática. É dentro deste movimento contemporâneo amplo que os conceitos de “cura interior”ou “cura das memórias” emergem de forma distinta.

2. O QUE É CURA INTERIOR?

O fenômeno conhecido como cura interior tem dois objetivos. O seu objetivo primário e espiritual é estender o senhorio e poder de cura de Cristo ao nosso passado, afetando mesmo a nossa experiência antes da conversão. O objetivo secundário e psicológico é portanto nos libertar de qualquer cativeiro emocional e psicológico que a nossa experiência passada possa ter produzido. Os teóricos da cura interior defendem que os bloqueios emocionais e os padrões habituais de comportamento (com os seus frutos negativos de frustração, derrota e fraca auto-imagem) nos impedem de atingir a vida abundante que Jesus prometeu. Portanto, eles concluem que, um esforço especial deve ser feito para curar estas feridas interiores, de forma que possamos ser libertos das diversas coisas que podem constringir e empobrecer as nossas vidas. Em resumo, o objetivo geral da cura interior pode ser descrito como uma espécie de “santificação retroativa”.

O propósito geral do movimento de cura interior é claramente de natureza pastoral. Desta forma, ele defende que a “cura das memórias” normalmente ocorra num aconselhamento de base individual, ou em pequenos grupos. Considera-se essencial que os dons do Espírito estejam em operação, particularmente os dons de discernimento e cura. Ao indivíduo que está buscando sua cura será pedido que reviva seu passado através da imaginação. Isto geralmente envolve um “retorno” ao ponto-problema – um encontro traumático ou assustador que moldou a auto-imagem e o comportamento da pessoa e também porque este ponto se alojou em camadas profundas de sua psique. À medida em que o “paciente” imaginativamente recria o ponto-problema, com toda sua intensidade emocional, eles dizem ao paciente para imaginar que Jesus está lá (naquela situação). Presume-se que a presença imaginativa de Jesus traga Seu amor e poder de cura para relacionamentos perturbados com os pais e companheiros, os quais são muito poderosos para que o indivíduo dê conta dos mesmos sozinho.

O que devemos fazer com estes fundamentos, teorias e técnicas que os acompanham? Na verdade, o que devemos fazer com os “ministros da cura interior”? A época em que vivemos, com sua orientação voltada para o experiencial, tende a gerar um entusiasmo desqualificado por experiências de cura interior dentro de alguns setores da comunidade cristã. Infelizmente, esta mesma tendência tem efeito oposto em outros cristãos, que vêem como muito suspeitas tais experiências e a fascinação acrítica despertada por elas. Na maioria dos casos, não existe uma única resposta simples. A época em que vivemos é caracterizada pela crescente complexidade da vida em todos os níveis – econômico, material, moral e intelectual. À medida em que novas e antigas idéias se proliferam, elas influenciam o pensamento cristão de várias formas. Algumas têm mais validade que outras; muitas são completamente inaceitáveis. Nós devemos estar preparados para encarar conceitos não-familiares e pacientemente e em oração desvendar tanto as suas fontes bem como a suas implicações. Este processo pode ser frustrante e cansativo, mas sua necessidade é cada vez mais crescente. Dentro disto, nós podemos comentar que a cura interior é um fenômeno complexo e altamente variável. Não é possível nem endossá-la, nem condená-la cegamente. É possível, entretanto, identificar e avaliar aqueles elementos que influenciam as teorias e as terapias dos que praticam a cura interior.

3. REDIMINDO A PESSOA INTEGRAL

A queda da humanidade (Gn.3) introduziu o princípio da morte e decadência em todos os níveis da existência humana. O veneno do pecado perpassa cada poro do nosso ser. Em seu sofrimento e ressurreição, Cristo venceu a morte – não somente fisicamente, mas de todas as formas em que somos afetados por ela. Nossa vida interior é uma parte crítica de nossa identidade pessoal, e portanto a necessidade para a cura das emoções e memórias sempre fez parte da nossa condição humana. O ensinamento e ministério de Jesus reconheceram implicitamente esta necessidade, bem como o fez o alcance da igreja primitiva. Jesus mesmo falou freqüentemente sobre “o coração” (isto é, “a sede oculta da vida emocional”) como fonte de pensamento e ação. Ele também citou a profecia messiânica de Isaías 61, declarando seu propósito de “restaurar o coração partido” (Lc. 4:18). O apóstolo Paulo falou repetidamente sobre a renovação da mente no Espírito Santo (Rm. 12:2; Ef. 4:23).

O encontro na estrada de Emaús (Lc. 24) pode ser visto (entre outras coisas) como uma forma de “cura das memórias”. O Cristo ressurreto encontrou dois de seus desapontados discípulos e começou a conversar com eles, colocando suas recentes memórias de falha e frustração, sob uma nova e positiva luz. À medida em que lhes expunha as Escrituras, Jesus reinterpretou lembranças negativas e mudou-as completamente, de forma que elas se tornaram fundamentalmente significativas – uma fonte de poder e esperança. De uma forma muito concreta e prática, nós podemos dizer que Cristo estava curando as suas memórias. Se nós tomarmos este incidente como um protótipo para o exercício válido desta forma de ministério, vários critérios podem ser vistos. Se esta forma de cura tem sustentação bíblica, ela não se referirá primariamente às cicatrizes emocionais e traumas psicológicos da infância. Muito mais, ela tomará uma perspectiva mais ampla, lidando radicalmente com todas as forças da ansiedade, medo e incredulidade que produzem pensamento e comportamento anti-bíblico. O ponto central da cura interior nesta perspectiva mais ampla é a morte sacrificial de Jesus e sua vitória através da ressurreição sobre o pecado e a morte, exatamente como aconteceu na estrada de Emaús. Deste ponto-de-vista, a cura interior é muito menos um fim em si mesma e muito mais um passo preliminar que capacita o cristão a conseguir a libertação (Gl. 5:1) e a maturidade espiritual, deixando de lado a forma egoísta e infantil de viver (I Co. 13:11-12).

Os discípulos, apóstolos e crentes do primeiro século conheciam o Cristo crucificado e ressurreto como Senhor de toda a história – cósmica (Cl. 1:15-23), racial (Ef. 2:11-20) e pessoal (Hb. 9:14). À medida em que eles seguiam Seu exemplo e a promessa de Sua eterna presença, eles eram libertos (e libertavam outros) do pecado, da doença física e psicológica e dos problemas emocionais, bem como do medo da morte e da falta de esperança que ela produz. Foi-lhes dada radicalmente uma nova base para a auto-estima, a qual não está baseada na mentira, ira ou outras formas de auto-afirmação. Esta nova base desafiou tanto a religião farisaica como sensualidade desenfreada.

A cruz de Jesus Cristo não somente se volta para as demandas do Judaísmo formal, mas também para a consciência tirânica – nosso superego como feitor ou falsa culpa – o qual é um dos aspectos mais desagradáveis da nossa criança interior (I Jo. 3:20). Os primeiros cristãos apropriaram-se das implicações subjetivas da morte/ressurreição de Jesus sem abandonar seu significado histórico e ético. Após sua conversão, o próprio Paulo parecia notadamente liberto de efeitos constritores que sua religião pudesse causar. A partir desta recém-adquirida visão ele foi capaz de olhar objetivamente para seu passado e ver a obra providencial de Deus (Gl. 1:13-17; At. 6:1-24).

4. A PSICOLOGIA DA PESSOA INTEGRAL

Existe comunhão entre psicologia e o Cristianismo? Esta questão, em seu sentido mais amplo, escapa do objetivo deste artigo. Entretanto, o assunto é pertinente, desde que muito da “cura interior” está baseada em visão secular de como a nossa personalidade é formada e influenciada.

Em alguns casos, conceitos de psicologia secular são claramente fundamentados na visão de humanidade da Bíblia. Muitos cristãos estão tentando restaurar o conceito bíblico de homem enquanto um ser global integrado mais do que como uma coleção de compartimentos. Tal entendimento auxilia a lançar luz sobre as interrelações ocultas das funções espiritual, mental, emocional e física do homem. Ironicamente, esta abordagem global se conflita com a dicotomia dualística corpo/mente da filosofia grega a qual fundamenta muito do pensamento cristão nominal. Pode-se também admitir que mesmo as conclusões negativas e potencialmente desumanizantes da psicologia sobre a natureza humana têm, pelo menos, dado nova profundidade de significado à noção de Paulo de “velho homem” e ao conceito de atos de justiça .

Sabe-se que a mente nunca esquece uma experiência, mas arquiva-a na memória. Se uma experiência é suficientemente desagradável, assustadora, terrível, etc., sua memória será reprimida, embora não perdida. A acumulação destas memórias reprimidas podem ter uma influência deformadora e constritiva no desenvolvimento do caráter e personalidade. Pode também ter um efeito de dificultar a capacidade de se relacionar com Deus, com os outros e consigo mesmo (portanto, sabotando a tentativa da pessoa em cumprir os dois primeiros mandamentos). O fruto destas cicatrizes emocionais e memórias reprimidas é percebido através de uma vasta gama de sintomas: depressão crônica, perfeccionismo neurótico, uma inabilidade de se entregar completamente a Deus ou uma incapacidade de aceitar o amor de Cristo que perdoa e redime. John Bunyan descreveu precisamente muitas destas condições miseráveis em seu “Graça abundante para o chefe dos pecadores”.

Muitos elementos da psicologia secular, entretanto, são mais ambíguos; alguns são frontalmente contrários ao pensamento bíblico. Sigmund Freud é a maior fonte de tendência a se enfatizar o trauma infantil. Carl Jung foi seu aluno e colega que se envolveu superficialmente com ocultismo. Sua abordagem sistemática à compreensão da natureza da mente inconsciente se tornou influente nos anos 60 e 70. Muito dos conceitos de Jung têm sido empregados num modelo “carismático” por pessoas como John Sanford e Morton Kelsey. Portanto, Freud e Jung (para não mencionar outros) indiretamente ajudaram a delinear muitas das pressuposições do movimento de cura interior. Além do mais, algumas das técnicas utilizadas para resgatar memórias têm sido tomadas de empréstimos de terapias seculares.

5. ALGUNS PARÂMETROS PARA O DISCERNIMENTO

À medida em que consideramos estes fundamentos, teorias e técnicas, e tentamos pesar suas implicações, nós devemos ter me mente alguns fatores críticos. A cura do “interior do homem” é uma premissa biblicamente demonstrável. Por esta razão, nós precisamos abordar alguma idéias e métodos sobre cura interior com cautela. A admoestação de Jesus a seus discípulos de que fossem “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt. 10:16) nos colocará numa posição bem firme para que sejamos capazes de identificar as influências sub-cristãs sem sermos influenciadas por elas.

A ênfase exagerada numa certa técnica na vida espiritual facilmente se torna uma tentativa de manipulação psíquica, um esforço de produzir uma experiência ou um encontro com Deus. Não há nada de intrinsecamente errado em se utilizar a imaginação na oração, mas a dependência de invocação imaginativa de imagens religiosas pode se tornar insana. O uso do termo “visualização de fé” não batiza semanticamente tais práticas. Os produtos da imaginação podem também ser convenientemente trazidos para o campo do desejo e do ego, enquanto que o Cristo vivo não pode. Uma ênfase extremada na confissão verbalizada pelo crente no movimento da “palavra da fé” é outro ensino aberrante o qual, sutilmente, se torna uma espécie de ocultismo. Nestas formas exageradas, a visualização da fé cria um “video-interior de Jesus”, o qual pode ser manipulado para quase qualquer sentido.

Da mesma forma, devemos estar atentos para os modelos psicológicos que se baseiam em visões anti-bíblicas da natureza humana. É também necessário identificar e rejeitar tecnologias terapêuticas que são utilizadas para sustentar tais modelos. Alguns praticantes de cura interior, infelizmente, não somente têm adotado um sub-modelo da natureza humana; eles têm permitido que os próprios modelos se tornem parâmetros de interpretação da Bíblia. Tais práticas se situam entre a aberração e a apostasia.

Como já dissemos, existem ligações demonstráveis entre tais técnicas como a “visualização da fé” ou a “confissão positiva” e algumas formas de pensamento do ocultismo e da Nova Era. Os esforços de se voltar para o interior para encontrar a globalidade, pode levar-nos à “dimensão divina interna” do misticismo Neoplatônico ou aos “arquétipos” do inconsciente coletivo de Jung. Em ambos os casos, bem como num grande número de casos similares, o sujeito que busca termina ofuscado por um subjetivismo, o qual é racionalizado com termos originários da metafísica oriental e da psicologia humanística.

Neste ponto, uma mudança da verdade bíblica para especulações humanas se torna base para uma séria confusão sobre a natureza da cura e, mais importante, sobre a natureza do praticante da cura. Neste novo papel, Jesus, o Messias, se torna em parte o terapeuta primal e em parte um xamã primevo. Nesta situação, uma tentativa de se fazer uma avaliação racional ou bíblica é negativamente rotulada como um “falta de fé”, “apagar o Espírito” ou “bloquear o fluxo”; pode mesmo ser desprezada como uma “viseira”. (Por exemplo, leia sobre a terapia primal em “Psychobabble” – balbucio psicológico, de R.D. Rosen. Procedimentos primais, incidentalmente, têm uma marcada afinidade com alguns aspectos da cura interior.)

6. UMA QUESTÃO DE PRIORIDADES

É razoável assumir que os problemas psicológicos e emocionais a que a igreja primitiva se referia eram tão complexos como os de hoje. Nós também vamos assumir que as soluções que ela aplicava são tão funcionais para hoje como eram no primeiro século. Não havia nenhuma necessidade de se renunciar à visão escriturística da condição humana ou de Jesus Cristo, a fim de fazerem estas soluções funcionarem. A imposição de mãos, a unção com óleo, a confissão mútua e a meditação direcionada eram alguns dos métodos empregados para produzir ambos, a cura interna e a cura externa. Os apóstolos foram estranhamente silenciosos, entretanto, sobre qualquer necessidade de reviver experiências relacionadas com a infância, ou sobre a prática de esfaquear o pai na imaginação, como alguns praticantes de cura interior têm aconselhado aos seus clientes.

Com certeza, há abundantes benefícios psicológicos em se colocar Jesus como o centro radical de nossas vidas e afetos – mesmo acima e além de nossos laços familiares. Nós também somos chamados, entretanto, a meditar sobre coisas que estão acima e, de alguma forma é bom que se diga, que não estão nutrindo ressentimentos ou usando a nossa liberdade como desculpa para o mal (Ef. 4:26; I Pe. 2:16; Gl. 5:1). Existe uma considerável distância entre confessar a presença de um desejo negativo e dramaticamente realizá-lo – mesmo que na fantasia.

Nós devemos evitar confundir o sagrado com a saúde. A cura da psique e emoções pode ser uma importante parte do nosso crescimento em direção à “godliness” (? espiritualidade). Entretanto, ela não deve ser superestimada em detrimento de outros aspectos da santidade, nem deve se tornar um substituto deles . Nós devemos nos guardar da idéia de que os cristãos estão isentos de toda sorte de enfermidades, doenças e tentações e que, qualquer ocorrência deste tipo seja um “commentary” (?ponto negativo) em nossa condição espiritual. Por outro lado, é importante não perder de vista as variadas maneiras pelas quais Deus provê libertação de coisas que nos impediriam viver plenamente em Cristo.

7. AS MARCAS DA INTEGRIDADE ESPIRITUAL

Cura espiritual pode ser considerada como tendo base bíblica. Se assim for, ela deve ser reconhecida como uma parte integral de nossa vida cristã. Três principais pontos nos ajudarão a discernir a consonância bíblica de cada forma em particular, de cura interior. Todos os três pontos são vitais para um entendimento equilibrado e seria desaconselhável isolar ou superestimar qualquer um destes elementos.

Primeiro: A cura espiritual deve tocar o problema na sua fonte. O indivíduo deve ser liberto da prisão de uma memória em particular e do falso significado atribuído a ela. As feridas emocionais causadas pelo incidente que forçou a repressão de sua memória deve ser curada. Paulo fala de Deus como o Pai da compaixão (I Co. 1:3-4) e também enfatiza que a provisão do sangue de Cristo é um aspecto da Sua perfeita sabedoria (Ef. 1:7-8). De fato, é a “contínua aspersão do Seu sangue” que guarda o coração e a consciência das “palavras mortas” (Hb. 9:14; 10:22) e nos liberta do cativeiro emocional destas palavras a fim de que possamos servir ao Deus vivo.

Segundo: A cura interior deve quebrar padrões de respostas habituais e comportamentos que foram gerados em reação a um trauma inicial. A pessoa que está sendo curada deve cooperar ativamente neste processo, ao invés de reagir passivamente à instruções e manipulações do que ministra a cura interior. Toda redenção envolve o fazer escolhas e o exercício da nossa vontade. Uma vez que fomos convocados ao arrependimento e renovação, somos também chamados a abandonar velhas formas de responder às pessoas e circunstâncias (Cl. 3:12-17; I Pe 2:1-3). Nós devemos portanto aprender novas atitudes e formas de lidar com estas situações (Ef. 4:22-24; I Pe. 1:5-9).

Terceiro: A cura interior deve produzir mudanças pessoais que sejam compatíveis com a revelação das Escrituras, do nosso novo ego (eu) em Cristo. Isto deve estar combinado com uma ênfase na confiança do que Deus nos diz sobre nós mesmos, mais do que nossos sentimentos podem dizer. A postura bíblica sobre a nossa natureza é, com certeza, uma avaliação verdadeira e mais confiável do que a feita por nossos medos, iras e memórias, sem mencionar as acusações do Adversário (Rm. 8:1-2). A cura interior deve nos ajudar a sermos reeducados (através da palavra de Deus) acerca de quem somos em Cristo. Uma vez que entendemos como Deus nos vê, bem como a provisão que Ele fez para o nosso crescimento, nós começaremos a desenvolver uma auto-estima que corresponde precisamente à nossa confiança na justiça de Cristo, mais do que em nossa própria (Rm. 12:3).

Nós não temos que abandonar o ponto-de-vista bíblico ou o compromisso com o senhorio de Cristo a fim de podermos nos beneficiar da cura interior. De fato, se tal necessidade for expressa ou se está implícita, é aconselhável reconsiderar a validade dos fundamentos que têm sido colocados. “Não siga nenhum homem que ande à frente de Cristo”, aconselhava o Puritano John Flavel. Suas palavras são tão pertinentes hoje como o eram no século 17.

Jesus mesmo reconheceu o dilema fundamental da humanidade, bem como suas secundárias implicações emocionais e psicológicas. Ele reconheceu o problema de se atingir auto-valia (auto-estima) diante em ambiente hostil e uma consciência igualmente hostil que foi imperfeitamente moldada por influências imperfeitas durante os anos de formação da pessoa. A consciência ainda não-redimida se torna um entrave na condição psicológica, o qual inevitavelmente produz sua própria dissolução (Rm. 8:6). Jesus sugeriu ao homem que a vida entregue a Ele e o fato de seguirmos seu exemplo – mesmo a sua morte como mártir – é uma carga mais fácil de ser suportada do que se lutarmos com as nossas próprias forças. (Mt. 11:28-30) (???? Júnia pergunta: mártir ou vicário? Ele deu sua vida ou foi morto, foi pego?)